quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Fluvia Lacerda, modelo plus size: "A sociedade está perpetuando uma mulher paranoica com a aparência"


A modelo Fluvia Lacerda é considerada precursora do segmento "plus size" no Brasil. Descoberta quando adolescente em um ônibus nos Estados Unidos, onde trabalhava como babá, Fluvia descreve que se tornar uma modelo famosa foi uma ‘mudança drástica de vida’.

Hoje em dia, agenciada pela Ford Models nos EUA e com ensaios fotográficos para revistas como a Vogue Itália no currículo, ela revela que seu trabalho vai muito além de modelar, Fluvia afirma que abraça uma causa.

“Nunca achei que a minha carreira iria tomar a proporção que tomou. Mas considero minha profissão não como uma questão de vaidade ou de querer ser uma estrela. Eu abraço essa causa (a do segmento plus size) como minha, porque eu sempre tive esse tipo físico. A geração de hoje em dia é quem está levantando essa bandeira plus size, é a turma com quem eu estou navegando junto. Estamos fazendo um bom trabalho e buscando reconhecimento”.

Ao ser questionada se sofreu preconceito em algum momento da sua vida, Fluvia destaca a vinda para o Brasil quando ainda era reconhecida apenas internacionalmente.

“Quando eu trouxe o meu trabalho para o país, eu já tinha uma carreira estabelecida lá fora e resolvi divulgar o meu trabalho no Brasil, o que foi muito difícil. As pessoas diziam que o “plus size” não existia aqui, que ninguém nunca iria fazer roupa nesse segmento e que nem sequer existia mercado para isso”, conta.

Ela ilustra a época com um imprevisto que a deixou sem ter o vestir: “Era tão claro que o país não estava dando a devida atenção para a moda “plus size” que quando cheguei ao Brasil aconteceu um imprevisto: eu perdi a minha mala e acabei não tendo o que vestir. Tive que usar por três dias roupa de ginástica da minha irmã, que é magrinha. Nesse momento eu pensei: ‘Como é que quem veste o meu manequim se vira no Brasil?’”.

Fluvia se sente responsável pelo espaço que o segmento GG tem atualmente no Brasil: “Tive perseverança de ir atrás e mostrar que havia sim um mercado, existia uma parcela da população que era completamente ignorada e existiam muitas gordinhas consumidoras em portencial. Há sete anos, desde que comecei a levantar essa bandeira, o mercado deu uma explosão muito boa”.



“Atualmente têm multimarcas que estenderam seus manequins, estão fazendo campanhas, tem comercial de televisão. Uma série de fatores que realmente abraçam a consumidora da moda plus size”.

Excesso de edição de imagens

Já é corriqueiro achar modelos extremamente magras ou até mesmo deformações corporais causadas pelo uso excessivo de Photoshop. Para Fluvia, a situação chegou a um ponto extremo.

“Existem coisas que são totalmente fora do contexto, afinal, a ideia é vender um sonho. Parece que ninguém tem poros, rugas, cabelos brancos, ninguém tem defeito. Uma adolescente abre uma revista dessas e pensa: ‘eu sou um lixo, olha essa mulher, eu não vou ser assim nunca’. Cria esse monstro na cabeça da menina”.

“Chegamos a um ponto extremo não só na questão da magreza, mas sim no comportamento geral da sociedade que está altamente deturpado em relação a isso. Estamos perpetuando aquela mulher paranoica com a aparência. Já ouvi mulher dizer que não vai amamentar para os peitos não ficarem caídos”, conta.

A modelo comenta ainda: “Minhas fotos já passaram por edição, mas muitas vezes como modelo não tenho poder sobre isso. Das coisas que eu tenho controle eu realmente tento manter sempre o mais real possível. Eu vivo postando foto minha sem maquiagem no Instagram e no Facebook. Quero que a geração da minha filha, que tem 12 anos, tenha outra mentalidade”.

Beleza real

Com dez anos de carreira, Fluvia, que mora em Nova York há 14 anos, quer mesmo levantar a bandeira em prol da beleza real.

“Acho que há muita frustação hoje em dia com a aparência. Está todo mundo querendo ser igual ao próximo. Falta mães dizer para a filha: ‘você é linda’. E está sobrando muita mãe dizendo: ‘alisa o cabelo, tira essa barriga, faz isso, faz aquilo’. Tem pouca mãe ensinando os filhos a ter orgulho da sua própria genética”, disse.

“Acho que está na hora da gente criar uma independência de pensamento. Muita gente segue o que está sendo ditado sem nenhum questionamento. Eu espero levantar essas questões no Brasil”, conclui.

FOTOS DA MODELO





FONTE: VIRGULA

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