Barriga lipoaspirada ou com abdominoplastia, corpo sem flacidez, celulite e estrias. Preferencialmente manequim 46, mas se for 44 ou 42 melhor ainda. Essa poderia ser a chamada de um casting em busca de modelos para confecções do mercado plus size, esse mesmo mercado que atende o consumidor gordo, que ama o dinheiro de pessoas gordas e que, no entanto, não quer ninguém gordo nas suas campanhas e editoriais.
Sim, existe preconceito dentro do universo plus size, este mesmo que diz lutar pela quebra de paradigmas e aceitação de todos os tipos de corpos. A onda agora é: você pode ser gordo, desde que seja um gordo PP. Confecções, marcas, desfiles, tudo o que envolve a contratação de modelos para representar e desfilar produtos para o mercado plus size descarta manequins acima dos 50. A justificativa, estranha por sinal, é que as consumidoras não se identificam quando a modelo é gorda.
Claro, isso se a modelo não for a top internacional Tess Munster, cujo manequim 58 é aplaudido de pé pelas consumidoras brasileiras, bem como pelas mesmas marcas que colocaram na geladeira a belíssima top brasileira Mayara Russi, que tem uma beleza estonteante e 162kg. Aliás, descartaram Mayara muitos quilos antes de ela chegar ao seu maior peso.
Tess é linda, autêntica, cheia de atitude, exala autoestima e eu me delicio com suas conquistas, me vejo representada por ela, e de alguma maneira o espaço que ela vem conquistando é nosso também. Hoje, contratada pela respeitada agência britânica Milk Management, Tess é uma das tops plus size mais respeitadas do mundo da moda e não seria exagero dizer que qualquer marca brasileira 'GG' gostaria de tê-la em uma de suas campanhas.
Até porque, ter uma modelo como Tess em seus catálogos é ter uma gorda de verdade - dessas com muito peito, muito quadril, muita coxa e muita perna, e tudo o mais que vem junto com isso, como celulites e estrias - vendendo o seu produto. Mas, afinal, porque aplaudimos tanto uma Tess, sendo que no nosso mercado a exigência por 'modelos gordas menores' está cada dia maior? A desculpa das marcas, que dizem que as consumidoras não se enxergam em modelos verdadeiramente gordas, parece inapropriada diante dos comentários e questionamentos de leitoras plus size pelas redes sociais.
Não deveria haver espaço para todos os tipos de corpos? Acredito que sim. Empoderamento não cabe em meio termo. E para que um mercado cresça organizado é preciso que haja coerência entre os envolvidos. Desejar que mulheres gordas sintam-se representadas por apenas um tipo de corpo, mesmo que muito gordo, é criar dentro do processo um novo preconceito.
Sou a favor da diversidade de belezas, dos diversos tamanhos de corpos e da exposição de todos eles. Aqui no Brasil, por exemplo, enxergamos a valorização de apenas um tipo de corpo gordo e ele não deve ultrapassar o manequim 48. Dizer que modelos gordas não vestem bem as roupas para divulgação é o mesmo que dizer para a sua consumidora que ela não ficará bonita com a sua coleção. É dar o tiro no próprio pé.
A moda, uma das principais ferramentas para destituir preconceito, deve ser repensada para o público GG, que reage de forma diferente aos estímulos. Mulheres com corpos maiores precisam que a mídia valorize também modelos mais gordas, para que o discurso de que todos nós podemos ser felizes - independentemente do tamanho dos nossos corpos - não se perca no meio do caminho.
É uma batalha interna no mercado plus size. Gordos escolhendo outros gordos para trabalhos como modelo com uma carga de preconceito imensa, afinal, se eu não me aceito completamente, como poderei aceitar que uma gorda desfile minhas roupas? E se eu nunca fui gordo, como poderei olhar essas mulheres realmente grandes como modelo de beleza para divulgar a minha marca, se minha vida inteira acreditei que elas são péssimos exemplos?
Toda relação para dar certo tem de ser uma via de mão dupla, no caso do mercado plus brasileiro parece haver apenas uma 'rua' onde as confecções dizem o sentido a percorrer: nós produzimos e vocês gordos consomem. Uma volta ao velho marketing, o qual consumidores não fazem parte do processo.
Modificar hábitos e costumes é tarefa de tartaruga, mas a evolução da sociedade se deve às pessoas que acreditam em seu potencial e não desistem. Assim somos, várias blogueiras e formadoras de opinião, gente engajada na causa plus que deseja a quebra de preconceito e não a criação de alguns outros. Não dá para, no meio do caminho, retroceder. E como dizem por aí, ‘para trás, nem se for para pegar impulso’. Por isso, diversas blogueiras empoderadas no 'body positive' - movimento que promove a aceitação do seu corpo como ele é - vem criando estratégias para que o mercado aplauda as gordas acima do 50.
É o caso de Kalli Fonseca, do blog Beleza Sem Tamanho, que milita na causa plus size há mais de dez anos. Com 137kg, 1,77m de altura e manequim 54, a blogueira resolveu vestir-se com peças que nunca pensou em ter em seu gurada-roupa e mostrou que gordas com grandes manequins podem ser lindas também fazendo parte de grandes editorias de moda plus size. E não é que ela tem razão!
FONTE: TEMPO DE MULHER
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