quarta-feira, 26 de março de 2014

Vale a pena assistir a este filme sobre a princesa Diana?

SUA ALTEZA, A SOFREDORA -- Diana, a verdadeira (à esq.), era carismática e manipuladora. A princesa da atriz inglesa (à dir.) é toda meiguice, frases edificantes e figurino impecável: uma pobre menina rica num mundo cruel lhe deve alguma reparação (Fotos: UK Press / Laurie Saprhamd / Divulgação)
SUA ALTEZA, A SOFREDORA — Diana, a verdadeira (à esq.), era carismática e manipuladora. A princesa da atriz inglesa (à dir.) é toda meiguice, frases edificantes e figurino impecável: uma pobre menina rica num mundo cruel lhe deve alguma reparação (Fotos: UK Press / Laurie Saprhamd / Divulgação)

Resenha de Mario Mendes, publicada em edição impressa de VEJA

TODA FOFA

No papel da princesa Diana, Naomi Watts se esforça na doçura e capricha no penteado. Mas o resultado tem cara de telefilme – se não de telenovela

Diana, princesa de Gales, é dessas personalidades de quem o público parece não se cansar jamais. Era bonita, jovem, elegante, rica e tinha sangue azul – conceito tão anacrônico e ainda tão capaz de fazer disparar corações e os cliques dos paparazzi.

Foi uma das mulheres mais famosas do século XX – seguida bem de perto por Marilyn Monroe, Jacqueline Onassis e, claro, Madonna -, e cada passo seu, da apresentação ao mundo como consorte do príncipe Charles da Inglaterra, em 1980, até o trágico e fatal acidente de automóvel, em 1997, foi exaustivamente observado, registrado e comentado.

Dezesseis anos depois de sua morte, o cinema tenta lhe render homenagem com um filme que chega com pelo menos duas credenciais de peso: é protagonizado pela atriz anglo-australiana Naomi Watts, duas vezes indicada ao Oscar, e dirigido pelo alemão Oliver Hirschbiegel, deA Queda! As Últimas Horas de Hitler.

Então por que tudo dá tão errado em Diana(Inglaterra/França/Suíça/Bélgica, 2013)?

Baseado no livro Diana, o Último Amor de uma Princesa, de Kate Snell, o filme trata dos dois últimos anos de vida da princesa e conta a história de seu romance com o médico paquistanês Hasnat Khan (Naveen Andrews, o Sayid da série Lost), alinhavando-a ao imbróglio da rumorosa entrevista dada ao jornalista da BBC Martin Bashir, em 1995, e o namorico com o playboy Dodi al Fayed, que morreria ao lado dela no desastre em Paris.


“É comovente ver como o carismático Naveen Andrews sua para ir além do repertório de galanteios de Khan e do seu orgulho ferido de homem que se apaixonou por uma mulher famosa demais” (Foto: Laurie Saprhamd / Divulgação

Há que levar em conta que, apesar de ter vivido em um ambiente rarefeito e magnetizado por assuntos candentes – as estripulias da monarquia britânica, o desenfreado culto às celebridades e as causas humanitárias -, Diana, como personagem, tem estatura mais de mocinha de telenovela que de figura histórica.

Pobre menina rica, criada em lar desfeito – os pais se separaram quando ela era criança e a mãe foi viver na Austrália -, que realiza o sonho máximo almejado por uma garota romântica: casar-se com um príncipe de verdade. Mas o destino, essa quimera desalmada, encarrega-se de abalar a felicidade da princesa pelas mãos de duas bruxas.

De um lado, a sogra rainha, Elizabeth II, que, conforme consta, a considerava apenas “uma garota aborrecida”. Do outro, Camilla Parker-Bowles, a amante de longa data de seu marido – e, desde o casamento com o viúvo Charles, em 2005, feita duquesa da Cornualha.

Diana, o filme, padece por investir com tanta insistência na fábula do romance cor-de-rosa com final infeliz. Há momentos que insinuam a habilidosa frieza da princesa para manipular a imprensa – como na cena em que ela ensaia diante do espelho as dolorosas falas para a entrevista da BBC -, e outros que enaltecem sua entrega sincera a causas como o desarmamento das minas terrestres na África.

Em vista do tom predominante, porém, essas nuances somem; tudo acaba soando como mais do mesmo – caprichos de uma garota mimada que deseja ardentemente ser amada porque o mundo cruel lhe deve alguma compensação.

Portanto, são também inúteis os esforços de Naomi para acrescentar alguma substância aos clichês do olhar desamparado, da compaixão pelos desvalidos e da mulher “em busca de seu próprio espaço” – e é comovente ver como o carismático Naveen Andrews sua para ir além do repertório de galanteios de Khan e do seu orgulho ferido de homem que se apaixonou por uma mulher famosa demais.

Não há aqui nem aquela comicidade involuntária que costuma fazer desse tipo de material um pequeno prazer perverso. É coisa para ver na TV, em madrugada insone. Sobre Diana, ainda não surgiu filme que supere aquele em que ela nem sequer aparece – o perspicaz A Rainha, de Stephen Frears.

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